O vento frio de uma noite de dezembro batia no rosto de Enrique Eemkens enquanto ele se agasalhava melhor.
Ele e sua esposa Ana caminhavam com dificuldade por um beco escuro em um lugar desconhecido de Utrecht.
Enrique havia acabado de ser batizado nessa primavera numa reunião na rua Homburguer na casa de um alfaiate pobre. Agora ele e sua esposa iam a caminho de um reunião Anabatista na majestosa mansão de Cornélio van Voort.
Eram quatro horas da manhã e já lhes haviam dito que fossem nesse horário. Teriam de ficar dentro da casa o dia todo e só poderiam sair depois do anoitecer.
A porta no muro do jardim estava aberta tal como disseram a Enrique. Percorreram o jardim dos van Voort às apalpadelas e subiram pelas escadas. Embora não houvesse o mais ténue raio de luz, eles chamaram silenciosamente numa porta. Uma criada com uma vela na mão abriu a porta. A janela da porta estava coberta por dentro com um pano negro e grosso.
Com seu chapéu na mão, Enrique entrou na salão de baile onde iam ter um culto secreto juntos.
As janelas estavam cobertas com vários panos pretos e grossos. O velho Cornélio van Voort era muito amistoso com os irmãos, mas não era membro da igreja. Aproximou-se e ofereceu um pequeno hinário a Enrique.
Ele não o aceitou dizendo que não sabia ler. Logo a reunião começou. O homem responsável estava vestido de preto e tinha uma estatura normal, barba e cabelo grisalhos. Disseram a Enrique que seu nome era Dirk Philips. Enrique escutou com atenção a pregação clara e simples de Dirk.
Nesta reunião noturna, a esposa de Cornélio van Voort e dois de seus filhos foram batizados junto com Beatriz, sua criada. Logo foi servida a santa ceia para quase vinte membros da igreja, ricos e pobres. Esta era a segunda santa ceia para Enrique.
Depois do culto, Enrique desfrutou de cada instante na casa grande enquanto todos esperavam anoitecer para saírem da reunião.
Ele falou com os outros irmãos acerca das Escrituras e especialmente tentou ouvir tudo o que disse Dirk Philips. Embora Enrique não soubesse ler, seu interesse vivo na Palavra de Deus o motivou a aprender rapidamente.
Na primavera seguinte, em 1562, enquanto Enrique e sua esposa assistiam outra reunião na mansão dos van Voort, as autoridades entraram com força. Alguns dos fiéis escaparam, mas Enrique e sua esposa não conseguiram. Algumas das pessoas capturadas evitaram a sentença de morte se retratando.
Cornélio van Voort, embora não fosse irmão na igreja, foi desterrado com sua esposa e suas riquezas foram confiscadas.
De Enrique Eemkens, o alfaiate pobre, não podiam tirar nada a não ser sua própria vida. Ele foi sentenciado à morte em 10 de Junho de 1562, em Utrecht.
No dia de sua execução, quando Enrique se ajoelhou para orar, o brutal carrasco puxou com violência sua camisa fazendo-o ficar em pé e não conseguiu terminar a oração.
Então Enrique teve de ficar em pé num banquinho que pode ser visto na gravura. Continuou falando o tempo todo e admoestando a multidão para se arrepender e se voltar a Deus.
O carrasco o amarrou numa estaca com uma corrente e pendurou um saco com pólvora no pescoço. Enrique falava com muita ousadia e o cruel carrasco colocou-lhe uma corda no pescoço e com vários apertos silenciou suas palavras.
Logo tirou o banco debaixo dos pés de Enrique, meteu no fogo um punhado de palha e alçou-a em direção ao saco de pólvora pendurado no pescoço de réu e incinerou com uma labareda colocando fim aos sofrimentos terrenos do nosso irmão Anabatista.
– História Anabatista que foi tirado de Martyrs Mirror, Páginas 660-661
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