Os Anabatistas eram hereges?

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A acusação de heresia foi dada aos Anabatistas repetidas vezes e, para muitos, ela é completamente justificada.

Semelhante acusação não é difícil de provar, levando em conta que Anabatista é um termo relativo. Todavia, se por heresia alguém se refere à negação das doutrinas cristãs fundamentais, os Anabatistas foram tachados falsamente de hereges.

A doutrina dos Anabatistas

Os Anabatistas aceitaram o ensino do Credo Apostólico, o conceito trinitário de Deus, a encarnação e obra expiatória de Cristo e a autoridade das Escrituras.

Eles podem ter sido hereges aos olhos de muitos dos protestantes, mas fica claro que não foram hereges em relação aos dogmas mais importantes da fé cristã.

O primeiro artigo na Confissão de Schleitheim de 1527 trata sobre o lugar de batismo na vida cristã. Da mesma maneira, a segunda confissão mais antiga dos Anabatistas, “A disciplina da igreja, como um cristão deve viver” evita um debate dos conceitos mais teológicos. Ela apresenta aspetos práticos da vida cristã.

O silêncio desses documentos mais antigos sobre temas tão essenciais pode ser interpretado de diferentes maneiras. Tal omissão poderia indicar uma falta de interesse na doutrina em si. Poderia indicar que a ênfase do movimento estava na vida cristã com a igreja.

De outra parte, é mais provável que o fato dos irmãos não terem abordado os temas teológicos nos seus primeiros documentos se deva a seu acordo básico com os reformados.

As partes introdutórias de ambas as confissões antigas tendem a confirmar essa dedução. Outras evidências vêm dos primeiros escritos de Conrad Grebel e de outros irmãos suíços.

Que sejam com todos a alegria, a paz e a misericórdia de nosso Pai, por meio de expiação pelo sangue de Cristo Jesus, junto com os dons do Espírito Santo, que foi enviado do Pai a todos os crentes, para lhes dar força e consolo e para ajudá-la a perseverar em toda tribulações até o fim, amém.

– Schleitheim Confession

A introdução dessa confissão também expressa claramente que os artigos foram acordados como intuito de resolver certas dificuldades surgidas entre os irmãos. De modo óbvio, os problemas não envolviam, distintamente, os assuntos apenas teológicos. Se os artigos refletissem a preocupação com a suposta posição anti-trinitária de Hans Denck, sem dúvida muito mais atenção teria sido dada ao debate sobre a cristologia.

O que foi dito da Confissão de Schleitheim também poderia ser dito da “Disciplina da Igreja dos Irmãos do Tirol”. Aqui se faz uma breve referência ao “Deus Todo-Poderoso” e à “sua eterna e todo-poderosa Palavra”. No entanto, esse escrito não trata desses termos nem dos seus significados.

Na carta de Conrad Grebel e de seus compatriotas, datada de 5 de Setembro de 1524 e dirigida a Thomas Muntzer, é possível perceber claramente o conceito trinitário. A doutrina da Trindade e outros temas teológicos fundamentais não estavam em jogo. Isso é verdadeiro no que diz respeito à crise entre os irmãos e Zwínglio e ao debate entre os suíços inquisitivos e o revolucionário Muntzer.

Não é difícil explicar a aparente afinidade do movimento Anabatista com as doutrinas mais fundamentais da Reforma. A primeira liderança Anabatista dependia dos reformadores. Conrad Grebel e Felix Manz estavam estreitamente relacionados com Zwínglio durante as primeiras etapas da Reforma em Zurique. Michael Sattler e, em menor grau Menno Simons, devem sua conversão à influência da Reforma luterana.

Levando em conta essa grande dívida, resulta ainda de modo mais notável o fato dos líderes Anabatistas terem se atrevido a abrir novos caminhos além das trilhas percorridas muitas vezes pelos estimados reformadores.